Micareta de Feira | Mudança de data | Mudança da Micareta para novembro divide opiniões entre tradição e modernização em Feira de Santanano
Durante debate mediado por Luiz Santos e Onildo Rodrigues, o historiador Edilson Veloso e o produtor cultural Antonio Dyggs apresentaram visões opostas sobre a transferência da Micareta de Feira para novembro de 2026. A discussão expôs o embate entre o respeito à tradição e a busca por um novo modelo de gestão e calendário para a festa.
Um novo capítulo para a festa mais tradicional de Feira
A decisão da Prefeitura de Feira de Santana de transferir a Micareta, tradicionalmente realizada em abril, para o mês de novembro, provocou uma onda de reações entre artistas, produtores culturais, foliões e estudiosos da cultura popular.
O tema foi debatido em um programa especial mediado pelos jornalistas Luiz Santos e Onildo Rodrigues, que receberam o professor Edilson Veloso, pesquisador da cultura feirense e referência nos estudos sobre micaretas, e o produtor Antonio Dyggs, com mais de 20 anos de experiência no entretenimento baiano.
Tradição e identidade ameaçadas?
O professor Edilson Veloso iniciou sua participação destacando o valor histórico e simbólico da Micareta de Feira, uma das mais antigas do Brasil, com quase nove décadas de tradição.
“Quando se muda uma tradição dessa forma, pratica-se um furto cultural. A Micareta é do povo, e não se pode tratar uma manifestação dessa magnitude como um produto comercial”, afirmou.
Veloso também criticou o que classificou como falta de diálogo por parte do poder público.
“Blocos afros, ambulantes, imprensa, artistas e produtores não foram ouvidos. Foi uma mudança feita de portas fechadas”, reforçou.
Para ele, a data de abril é parte da identidade cultural da cidade e carrega um valor simbólico que não pode ser substituído por razões logísticas ou econômicas.
Modernização e profissionalismo: o argumento de Dyggs
Do outro lado do debate, o produtor Antonio Dyggs defendeu a mudança como um passo importante rumo à profissionalização e planejamento antecipado do evento.
“Há 20 anos venho pedindo antecedência no planejamento da Micareta. A mudança para o segundo semestre pode permitir isso. Não defendo a mudança por interesse comercial, mas por acreditar que ela pode dar à festa o protagonismo que merece”, destacou.
Dyggs argumenta que a festa, realizada em abril, fica “espremida” entre o Carnaval e o São João, dois grandes eventos do calendário baiano.
“Hoje, o São João tomou conta do estado. Novembro é uma chance de Feira respirar e planejar sua festa com mais autonomia”, completou.
Consulta pública e impactos econômicos
Apesar das divergências, os dois convidados concordaram sobre a importância de ouvir mais a população e os setores diretamente envolvidos com a Micareta.
Para Veloso, o novo período traz riscos econômicos e logísticos:
“Novembro é um mês próximo ao Natal e ao Ano Novo, com orçamentos familiares apertados. A justificativa econômica não se sustenta”, avaliou.
Dyggs, porém, acredita que a mudança pode fortalecer o calendário de eventos de Feira e gerar novas oportunidades de investimento.
“Cada evento precisa do seu tempo. A Micareta pode crescer se tiver espaço e planejamento”, defendeu.
Entre tradição e reinvenção
O debate deixou claro que o futuro da Micareta de Feira de Santana está em construção. Entre a preservação da memória cultural e a necessidade de modernizar a gestão, há um consenso: a festa precisa ser planejada com antecedência, com diálogo e participação popular.
Enquanto uns veem a mudança como retrocesso, outros enxergam reinvenção. O certo é que a Micareta continua sendo um dos maiores símbolos da identidade feirense — e qualquer decisão sobre ela precisa respeitar o sentimento de pertencimento que move gerações de foliões.

Foto: Edilson Veloso e Antônio Dyggs - Por Mayara Naylane
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