Feira de Santana | Economia | Tarifas dos EUA já afetam economia brasileira e podem impactar Feira de Santana, alerta economista da Ufba
Setores como agronegócio, mineração e indústria aeronáutica estão entre os mais atingidos; cenário pode gerar instabilidade e desemprego no país
O aumento de tarifas anunciado pelos Estados Unidos sobre produtos importados já começa a afetar a economia brasileira — e os reflexos podem chegar diretamente a Feira de Santana. A análise é de Gésner Brehmer, doutorando pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-BA), em entrevista ao programa Levante a Voz, nesta quarta-feira (16).
Segundo Brehmer, embora as tarifas de até 50% sobre produtos estrangeiros só entrem em vigor a partir de 1º de agosto, os efeitos já são sentidos. “Podemos linkar esse tarifácio com o nosso Brasil e, consequentemente, com a nossa Feira de Santana. Os Estados Unidos ainda são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Qualquer medida que afete essa relação impacta diretamente nossa economia, inclusive a baiana”, destacou.
Setores mais atingidos
Os principais setores afetados são o agronegócio, a mineração e a indústria aeronáutica. Bremen citou como exemplo a laranja brasileira, que abastece cerca de 80% do mercado norte-americano. “Um produto vendido por 10 pode passar a custar 15. Isso reduz o consumo e prejudica toda a cadeia produtiva”, explicou.
A Bahia, destaque na produção de celulose, também deve sentir os efeitos da medida. Outro exemplo citado é a Embraer, que tem 60% de sua receita vinda das exportações para os EUA. “Se você vende menos, investe menos, e isso gera menos empregos”, alertou.
Com a proximidade da data de vigência das tarifas, empresas brasileiras estão tentando antecipar embarques, o que tem provocado uma corrida nos portos e sobrecarregado a logística nacional. “As pessoas estão tentando se adiantar à entrada das novas tarifas, o que está travando os portos brasileiros”, disse o economista.
Impactos locais
Em relação a Feira de Santana, Bremen afirma que a cidade segue a tendência do estado e do país. “Feira está inserida em cadeias produtivas que sofrem os reflexos dessas mudanças. Uma queda nas exportações pode aumentar a oferta no mercado interno e até reduzir o preço de produtos como carne e laranja. Mas isso também pode gerar instabilidade e desemprego”, analisou.
Apesar das dificuldades, o especialista acredita que o Brasil pode buscar alternativas, como o fortalecimento das relações comerciais com China, Europa, Argentina e Rússia. No entanto, pondera: “Vamos precisar de mais tempo para avaliar. Talvez no fim de agosto ou início de setembro tenhamos um cenário mais claro”.
Medida protecionista e contraditória
Brehmer, criticou a justificativa do ex-presidente Donald Trump, de que a medida visa proteger a indústria americana. “A própria indústria dos EUA depende de insumos importados. Ao encarecer esses produtos, ele eleva o custo de produção do próprio país. Nenhum país é autossuficiente”, ressaltou.
Para o economista, o momento exige maturidade diplomática. “Em algum momento, os adultos vão ter que entrar na sala e dialogar. Brasil e EUA são potências que, juntas, representam quase metade da produção mundial. Não faz sentido manter uma postura que prejudica a todos”, concluiu.
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