Feira de Santana | Economia Popular em Foco | Seminário nacional de contabilidade popular reúne feirantes, universidades e ONGs na Marechal Deodoro
Evento marca encerramento de curso gratuito com alcance nacional e reforça protagonismo dos feirantes, a importância do associativismo e da organização financeira para a economia solidária

Um grande encontro de saberes populares e acadêmicos, trocas de experiências e fortalecimento da luta coletiva. Assim foi o Seminário de Contabilidade Popular, realizado na tradicional Feira da Marechal Deodoro, em Feira de Santana, reunindo feirantes, representantes da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), ONGs como a Capina, autoridades locais e integrantes da Rede Contar, articulação nacional voltada à economia popular.
O evento fez parte da etapa final de um curso online gratuito de contabilidade popular, promovido em todo o Brasil. Com participantes das regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste, o curso agora chega a uma fase prática e presencial, com atividades formativas, rodas de conversa e o programa interativo “Chá com Zé”, criado para estimular diálogos sobre associativismo e gestão popular.
Resistência e organização: a força da Marechal
Segundo Flávia Pitta, integrante da Incubadora de Iniciativas da Economia Popular e Solidária da UEFS, o seminário representa um avanço importante para a feira e a luta histórica dos feirantes da Marechal.
“A gente aprende muito com a resistência daqui. Mesmo com a retirada do centro da cidade, eles conseguiram se manter e se reorganizar. A criação da associação é um passo de amadurecimento dessa luta”, afirmou.
Flávia reforça que o acesso à contabilidade e ao direito fortalece a autonomia dos trabalhadores.
“Entender como comprar, vender, economizar e planejar é um ato político. Esse conhecimento precisa estar na mão do povo. Só com organização e consciência conseguimos transformar a economia”, pontuou.
Apoio institucional e reconhecimento cultural
O secretário municipal de Agricultura, Silvanei Araújo, destacou as ações da prefeitura em apoio à feira, como a entrega de barracas padronizadas, melhorias estruturais e oferta de kits feirantes.
“A Marechal é mais que uma feira. É um espaço de cultura, sustento e pertencimento. Estamos trabalhando para qualificá-la e valorizá-la como um patrimônio de Feira de Santana”, disse.
Também presente no evento, o vereador Professor Ivamberg ressaltou a importância do associativismo e da formação para os trabalhadores populares.
“O conhecimento científico pode aprimorar o que já é feito com muito esforço. A contabilidade popular e o associativismo são ferramentas de resistência e emancipação. Já temos uma lei que reconhece a Feira da Marechal como patrimônio imaterial”, destacou.
Voz da base: aprendizado e autonomia
A presidente da nova Associação dos Feirantes da Marechal, Edneide Ribeiro, conhecida como Mocinha, celebrou o evento como uma conquista coletiva:
“Nossa associação nasceu da união na luta. Esse seminário mostra que podemos e devemos aprender. Não é só comprar e vender, é preciso se planejar, se organizar, cuidar das nossas contas”, declarou.
Capina e Rede Contar: articulação nacional pela economia solidária
A ONG Capina, com atuação desde 2021 na formação em contabilidade popular, também participou do seminário. Representadas por Malu Azevedo e Rosiane, as integrantes destacaram a importância da troca de experiências entre os territórios.
“A Marechal representa a resistência diante da invisibilização do trabalho popular. Esse seminário encerra uma formação nacional que ajudou a capacitar contadores e profissionais ligados à economia solidária”, disse Rosiane.
Malu reforçou a dimensão cultural e política das feiras populares:
“A contabilidade é uma ferramenta de autonomia. Quando o feirante entende sua vida financeira, ele melhora sua qualidade de vida e fortalece sua organização coletiva.”
Próximos passos
O seminário continua até o fim da semana com oficinas, vivências práticas e articulações entre feirantes, universidades e organizações sociais. A proposta é consolidar parcerias que ampliem o acesso ao conhecimento, a valorização da economia popular e a defesa de políticas públicas voltadas a trabalhadores informais e autônomos.
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